ME DESCULPA, "ROUBEI" A TESOURA.
Cadê? Você viu por ai? Quem está procurando, alguém mais se interessa pela causa? Pois estou intrigado aonde foi parar o caráter das pessoas? Se fosse um artigo de prateleira, estaria encalhado, e com um super cartaz, tudo por R$ 1,99, para ver se assim as pessoas adquirissem o seu. Caráter, nada mais é, do que o reflexo das pessoas olhadas de dentro. É a junção da índole, da personalidade, concepção moral, hábitos, virtudes e vícios. Tudo isso junto, forma o caráter de uma pessoa. Qualidade crucial para o ser humano aprender a respeitar o próximo, suas diferenças; respeitar o meio social em que vive; Respeitar o próprio mundo. E essa, é uma virtude que nos é presenteada ao decorrer da nossa infância, pelas pessoas que nos criaram. No meu caso, meus fantásticos PAIS. Teve uma passagem, que considero crucial para a formação de meu caráter. Lembro- me como se fosse hoje, e ainda me envergonho do que fiz. Tinha aproximadamente seis anos de idade, praticamente estava nascendo para o mundo. Em uma aula de educação artística, minha favorita digo de passagem, me encantei por uma tesoura que estava sendo usada na classe, não sei por que aquela tesoura me fascinou, e sem pensar muito, peguei a tesoura e enfiei na minha bolsa. Na hora sabia que não estava fazendo algo muito certo, que aquilo poderia me causar alguns problemas em casa. Mas resolvi assumir as responsabilidades e depois que vi que o “roubo” tinha sido um sucesso, fiquei sem o menor peso na consciência. Quando cheguei na padaria, que meus pais tinham na época, e minha querida mãe percebeu que eu estava com uma tesoura que não era minha, na hora o semblante se fechou e a inevitável pergunta que por algum momento eu temi, foi feita:”De quem é essa tesoura”? Ali percebi que tinha alguma coisa muito mais grave no que tinha feito, que não era só o fato de ter pegado a tesoura de um amiguinho, pois eu ainda era uma criança, que por muitas vezes tem ações impulsivas, mas perbeci, nos olhos tristes de minhas mãe, na sua voz altiva e firme, que tinha feito algo incoerente a educação exemplar que meus pais sempre me deram, tanto a mim, quanto aos meus irmãos. Por um momento me calei tentando buscar alguma desculpa, como se eu conseguisse inventar desculpas para minha mãe. Mais uma vez ela olhou nos meus olhos, e mais firme que nunca, disse: ”Essa tesoura não é sua, você pegou ela de alguém, e do mesmo jeito que você pegou, vai agora à escola devolver. Isso não se faz, onde você colocou tudo que eu e seu pai te ensinamos”. Parece que ela sabia que aquela atitude, ríspida e firme, iria definir os valores de seu filho pro resto da vida. Parece não, ela sabia. E sem precisar me escoltar até a escola, pois sempre confiou muito em seus filhos; com muita vergonha, de cabeça baixa, carregando nos ombros um peso incompreensível para uma criança de seis anos de idade, voltei à escola e devolvi a tesoura. Ainda me lembro da sensação daquele momento, eu senti como se tivesse feito a coisa mais correta da minha vida. Naquela hora, eu senti dentro de mim, o que é ter caráter. Aquela atitude da minha mãe, mais o reflexo do homem fantástico que é meu pai, fizeram nascer dentro de mim, o homem que sou hoje. É por isso que procuro nas pessoas, como se fosse um vício para mim, o caráter. Então, em vez de colocarmos o caráter lá embaixo na prateleira, abaixar o preço pra ver se as pessoas compram por falta de opção. Vamos coloca - lo a vista, vamos adquiri- lo por esforço, após adquirido, é como se fosse um vírus, automaticamente você sai contagiando quem quer que esteja a sua volta. E essa virtude, acompanhada de amor, é a única formula de sucesso para um dia almejarmos um mundo melhor.